A cidade de Palmyra foi, ontem, uma cidade em ascensão: Palmyra das fábricas, Palmyra das fazendas, com suas casas pequenas, mas felizes, sua praça com girassóis no jardim, suas ruas tranquilas, a estação de trem. Passa um leiteiro com sua carroça, dirigindo olhares licenciosos à moça namoradeira e sonhadora na janela; do outro lado da rua a velha fofoqueira, sentada em sua varanda entre tricôs e fuxicos, observa tudo atentamente; uma moça bonita com sua sombrinha florida caminha em direção à Igreja, onde dobram os sinos chamando os fiéis para a missa; o barbeiro em seu salão conversa com seus clientes e sorri para as senhoras que passam, enquanto o fotógrafo, na loja ao lado, debruça-se sobre seus papéis e instantâneas, com suas grandes lentes de óculos de aro de tartaruga; na praça há os velhos que vêem, com olhos de menino, a juventude passar em um menino que passa e sorri.
Hoje retorno à Palmyra e não mais a reconheço. A cidade continua lá, mas agora me é estranha: as grandes fábricas faliram; prédios solitários e soturnos se amontoam onde antes havia algumas pequenas casas felizes; o coreto da praça perdeu seu telhado e flores medíocres substituem os girassóis nos jardins. A cidade agora ostenta o nome de um de seus filhos ilustres: de uma forma ou de outra, deixou de ser Palmyra.
A Palmyra das fábricas e fazendas pertence agora ao mundo dos sonhos e recordações; ainda é possível visitá-la, mas com os olhos voltados para o passado. Suas velhas personagens, no entanto, ainda permanecem na Palmyra usurpadora, com os mesmos rostos, olhares, gestos, palavras e sorrisos, representando os mesmos papéis: o leiteiro, a namoradeira, a fofoqueira, a moça, a missa, o barbeiro, o fotógrafo, os velhos, a criança que passa e sorri... Remanescentes sem cor e sem forma de uma cidade extinta e sem matéria
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